“Lá se arranjavam umas chouriças para se assar”

O Natal não era como é hoje, não. Nem ninguém ligava a isso. O Natal era um dia como os outros. O Natal é todos os dias. É preciso é tempo para fazê-lo. A gente nem saía de casa. Não havia convivências. Era só cada um em sua casa.

Lá se arranjavam umas fogueiras lá se arranjavam umas chouriças para se assar e lá se diferenciava um bocadito da coisa, mas não era assim nada de especial. Hoje em dia é que se dá cá prendas. Eu agora depois de velho é que recebo prendas da minha filha, dos meus netos. Naquele tempo não havia prendas para ninguém. Ninguém se lembrava cá de prendas, nem menos prendas. Hoje em dia é que já é tradição. A minha filha e o meu genro e os meus netos vêm passar o Natal e vêm carregados de prendas. Até digo que nem queria nem nada, mas é tradição, é tradição. Lembro-me estar aqui mais a minha mulher até à meia-noite para abrirmos as prendas, para estarmos aqui a convivermos. Eu às vezes queria-me ir deitar e sabe Deus como eu passo os natais. Mas é família, filha e netos com certeza que tudo bem. Tem que ser assim.

Agora é o bacalhau com hortaliça que é o mais tradicional. Mas há outros pratos sem ser isso. Nós em casa praticamente é o bacalhau. Antigamente não. Era o que calhava. Não havia tradições.