“Por vezes chegava a casa tinha a porta fechada à chave”

Os bailes eram giros. Era mais ou menos até à altura do Carnaval. Depois vem a Quaresma e na Quaresma já não há nada. Só depois pela Páscoa e assim por aí fora, de vez em quando. E era só aos domingos. À semana não havia. À semana era para trabalhar no campo, na vida normal. Agora aos domingos à tardinha é que se faziam os bailaricos. Até desses bailes tenho uma grande história.

O baile aqui às vezes não agradava. Não sei. Por causa das raparigas, por isto ou por aquilo. E às vezes ia para fora da terra. Aconteceu-me duas vezes. Fui para fora da terra para o baile. Cheguei a casa a minha mãe tinha a porta fechada à chave. Tive que ir dormir ao palheiro. Foi a primeira vez. Depois na segunda vez aconteceu-me o mesmo. Digo assim:

Bom, não vale a pena me estar a afectar.

Eu não tinha problemas. Não dormi na rua. Ela não queria que eu saísse. Ela tinha razão. Se tínhamos cá raparigas na terra, para que é que havíamos de ir para fora? A gente é assim quando é novo. Por vezes chegava a casa tinha a porta fechada à chave. Eu bem batia à porta.