“Os presuntos, era o que se vendia para comprar outro porco”

O porco depois de estar criado, depois de ter carne suficiente matava-se. Não era todos os anos. Era conforme as posses. Desmanchava-se. Punha-se, a gente chamava, numa salgadeira de madeira. Punha-se sal para conservar. Era a conserva. Não havia frios não havia nada nessa altura punha-se na salgadeira. Conservava e depois a gente ia comendo. Era o conduto que a gente tinha para durante o ano. Era a carne de porco. Agora a gente já tem outros governos, mas naquela altura era o conduto de todo o ano. Às vezes, um bocadinho de bacalhau, mas isso era quando o rei fazia anos.

O porco abria-se ao meio, tirava-se-lhe as tripas. As tripas eram bem lavadas depois enchia-se. Umas enchiam-se de farinheira, outras de carne e outras de sangue, morcela. Depois iam para o fumeiro curar. No fim de curar a gente punha-as em conserva. Também para ir comer de vez em quando. Para não comer tudo de uma vez. Não podia ser de uma vez. E as carnes mesma coisa. Que se ia lá à salgadeira. Eram conservadas em sal e assim se ia comendo.

Os presuntos, que era o melhor do porco, era o que se vendia para comprar outro porco, porque não havia posses. Se não nos compravam não havia dinheiro, para porco. Ou se vendiam ou se salgavam. Depois a gente cada vez que queria ia e cortava uma fatiazinha e ia comendo com pão com broa. O resto da carne é que era conservada depois em sal e ia-se comendo conforme era preciso.