História de lobos

Aqui, havia muitos lobos. Uma vez, andava lá a guardar as ovelhas. Lá andava com elas no lameiro e pus-me a olhar para o pé duma cerejeira que havia para cima duma peneda. Estava lá um lobo no meio das giestas. Eu vi que era o lobo, abalei, vim à frente das ovelhas, elas viram-me a andar, não foi preciso abalá-las, nem chamá-las. Vim cá para baixo para outro lameiro. Elas abalaram logo atrás de mim.

Outra vez, um cunhado meu andava a guardá-las aqui à frente do povo. Então, não vieram lá para lhe agarrar as ovelhas, umas borregas? Eram dois. Um veio agarrá-la e o outro ficou no cimo à espera para lá ir ajudá-lo. Eles conhecem como é que hão-de fazer, também.

Por outra vez, fui vender umas cestas. Estávamos ali nos Parrozelos. Trabalhava naquilo e fui para o lado de Fajão, para o lado daquelas serras todas em volta. Depois, vim-me embora, à noute. Vim à Cruz da Castanheira para cá e vim por cima, pela serra. Quando vinha lá no caminho “pia aquém”, vi as patadas dos lobos. Já ia quase o sol a pôr-se e eu ainda lá na serra sozinho... Muitos estavam lá a lembrar-se que eu vinha-os encontrar no caminho. Eu não me apercebi para que lado é que eles iam. Se era para além se era para cá. Vim para cá. Quando vinha ali em cima a assomar para aqui, já se ia a pôr o sol. O meu pai andava a guardar o gado e os lobos vieram para vir a ele. Ele lá lhes fez espanto e lá se foram embora. Foi quando eles foram lá para onde eu vinha.

Outra vez, andava a roçar mato aqui em cima na assentadazita, onde se vai para a Moura, onde estão os postos na Malhada. Havia lá pinheiros. Agora, já está quase tudo tapado, mas, nessa altura, faziam-se cavadas, estava destapada. Estava enevoado, estava lá o nevoeiro a passar, naquele sítio. Olho para cima, para onde vai a estrada para o Piódão, mesmo encostado à estrada ia lá o lobo para o lado da Moura. Agarro, venho-me embora e já não rocei lá o mato.