“Não havia fartura”

Tenho uma neta que é do meu filho mais novo que aqui há tempos estava lá em casa dela e dizia-me, por causa do comer:

- “Ó avô quando você se criou era pior que agora?”

Digo eu assim:

- Ó menina, se tu viesses quando o avô veio, tu morrias à fome. Não havia frigorífico para guardar nada. Não havia gelados no frigorífico, não havia iogurtes, não havia nada. Tínhamos que comer a broazita. Não havia pão de trigo. Era a broa do milho que se criava nas fazendas. Todas as semanas cozia farinha para termos a broa. Caía-nos uma migalha para o chão, a gente apanhava, soprava-lhe e metia na boca. Não era como agora. Coisas boas para comer, era a hortaliça e as batatas, os feijões e alguma frutazita, quem a tinha. Não havia fartura de fruta como há agora. Galinhas era quando me apetecia. Precisava matava uma. Era assim que se governava.

Não havia guloseimas. As guloseimas mais que a gente comia era o queijito fabricado em casa, feito do leite dos animais que a gente criava. Tínhamos que comer o que a terra dava.

O doce mais usado era a tigelada. Agora é que já fazem aqueles pudins, essas coisas todas, mas antigamente ninguém fazia. Faziam a tigelada, o arroz-doce e chamam as filhós. Eram aquelas que chamam coscoréis. Era o que faziam antigamente.