“Era onde calhava”

A minha casa de infância era onde calhava. Estive em casa do meu avô. Tínhamos outra noutro lado, mas as mais das vezes estávamos lá. Era mais perto lá em baixo da ponte. Era feita de parede, sem ser rebocado nem nada. Era o que se arranjava. Tinha um quarto e a cozinha. Só e chegava.

Luz, só aquela que saía dos olhos. Para iluminar, era com aquilo que a gente tinha. Era uma pinha. Punham-na acesa de cima de qualquer coisa para se estarem a ver. Para aquecer, ia-se buscar a lenha e queimava-se. Não havia miséria dela. Só se a gente não tivesse tempo para a ir buscar.

Água ia-se buscar à fonte. Estávamos lá perto. Era aí nem 50 metros. Para tomar banho, era conforme se podia. Às vezes, nem tempo para isso tinha. Adormecia a gente e já não tinha alcance para fazer as coisas. Não é como agora. Em apetecendo, vão fazer este serviço e aquele. À gente, naquele tempo, não chegava para o outro resto. Para lavar a roupa, iam à fonte, que estava lá perto, ou noutro lado, onde podiam.