Constrangimentos de uma aldeia sem padre

Antigamente, nem tínhamos cá missa nem nada. Era em Pomares. É lá muito longe, lá para baixo! Para irmos à missa, só quando era das festas. Ou quando era, às vezes, duma reunião ou disto ou daquilo. E a pé! Não é de carro como agora. A gente tinha que andar a pé. Por isso, agora é outros tempos. A minha mãe, que Deus tem, e o meu pai foram-se casar a Pomares, onde a gente éramos baptizados. E eu ainda lá fui baptizar pelo menos três. Mas nós, eu e o meu marido, já fôramos fidalgos. Estávamos cá descansadinhos, porque tínhamos padre na Mourísia.

Ao fim, mudaram ali para a Moura da Serra. Eu não queria. Digo assim:

- Eu não mudo para lá! Antes quero vir aqui que tal.

Para ali, quando podia bem, era meia hora que eu subia de lá abaixo ao alto. Nem lá havia a estrada nem nada. Havia lá uma “estradelha” “pia baixo”. Agora acho que está aberta, que já lá passou uma máquina. Íamos às festas. Mas, para a gente ir e vir a pé, chegava aqui já vinha farta de festa até.

Lá baptizei dois filhos, a que está ali para Castelo Branco e o outro que morreu. Agora, a minha filha nem é crente nem é descrente. Nem baptizaram o filho nem nada. Também não há padre na Moura. Há falta de padres, mas não é cá. Em Fátima e assim noutros lados só se vêem padres. E ali não se vêem.