A festa dos santos

Ao cimo da aldeia, temos a Capela Nova. Já andaram a compor. Puseram-lhe azulejos por baixo e agora está arranjadinha. Temos lá a Senhora da Saúde, a Senhora da Assunção, o Santo António, a Senhora de Lourdes. A Senhora da Assunção era já velhota. Mas, quando se é velho, também não podem atirar com a gente. Levaram-na lá para cima, está lá. E a Senhora da Saúde foi a Etelvina que a comprou.

Hoje, fazemos a festa em Agosto, mas primeiro era em Maio. Dia de Santa Cruz é que era a festa. Depois, mudaram para o dia 15 ou 16 de Agosto para virem os de Lisboa. O ano passado até fizéramos a procissão das velas na véspera. Levam, vamos supor, a Senhora de Fátima ou outra santa que seja mais leve e o pessoal vem. Mas quando é mesmo procissão, no dia da festa, vai o senhor prior também. É a procissão como deve ser. Vai o padre e o pau, levam os andores e vai a música de trás dos andores, que vão na frente. Vão dar a volta lá em cima, dão a volta lá nessa dita capela e vêm por baixo outra vez “pia aquém”, à capela. Tudo assim organizado.

Depois, põem as ofertas a lanço. Quando é missa campal, a gente faz uma oferta do que tem e quer pôr e põem-nas a lanço. Lançam a leilão para render dinheiro para as santas. Ao resto, aquele que der mais é que fica com as ofertas. É coisas que se comem. Às vezes, põem uma garrafa disto, uns bolos, um pão leve, uma broa, uma frutinha, chouriços…

À tarde, andavam no bailarico. Era “esputricarem”, a dançarem uns com os outros! Naquele tempo, havia cá dois bailes. Era um aqui em baixo, numa casa que era do meu irmão e da minha irmã. Chamavam-no baile da Caró. E o outro era o baile da Estrela. Era lá em baixo, no fundo do povo. Às vezes, vinham para aí uns de Sobral Gordo com uma concertina. E havia cá um homem, que morava ali ao pé de mim, que era um belo tocador. Chamavam António Joaquim. Então, juntava-se com os de Sobral Gordo e vinham. À noite, a gente estava a comer e já estava a escutar. Já eles vinham para cá tocar. Eu não era muito grande dançadeira. Dançadeiro era o meu marido! Diz que não deixava uma valsa, que andava sempre a dançar e a tocar. Ainda era solteiro, ia com esses da concertina, ali de Sobral Gordo, para o Pisão e para o Monte Frio. Andavam lá até de manhã. Era as mães a dormir e eles ali. Eu não sei qual era a alma que aguentava tanto tempo a tocar e a dançar. Até de manhã cedo. Quando lá vinha, já era de dia. Já era casado e elas antes queriam ir com ele que irem com outro.

Aqui há uns três anos também ainda lá fôramos os velhos. Dançámos ali atrás de roda, de roda.