Lá andáramos e começáramos a quase que logo a tratar do casamento. Eu já tinha alguns 25 anos quando me casei, me parece. Foi lá em cima, num altozito, naquela capela que chamemos a Capela Nova. Andavam a fazer a outra lá em baixo ou não sei como é que era aquilo e o padre teve que me ir receber na capela de cima. Era um que chamavam o padre João, que era de Pomares.
O meu vestido era um vestido em azul, a modo claro. Comprei outro para vestir depois. Compremos até em Arganil, lá no Mont'Alto, o pano para o outro. Mas já lá vão. Já esfarrapou-se tudo. A camisa do casamento, ainda a lá tenho! Pois. Naquele tempo, usava-se umas camisas por baixo. Era o sutiã e depois era a camisa de cima. Agora, nem combinação trazem. Eu tenho-as lá.
O casamento foi em baixo, naquela casa comprida que lá está ao pé da Comissão. Depois, viéramos para cima, que era a casa dos meus irmãos, e lá andáramos a dançar. E o meu marido a fumar naquele dia. Nunca o vi fumar. Nunca! Daquela vez é que eu o vi fumar. É verdade. Mas da gente dele nenhum fuma! O meu pai, que Deus tem, também não fumava. Agora, qualquer um fuma. É mulheres, é tudo! Ainda fumam mais que os homens! Não me lembra as mulheres fumar como é agora uma pouca-vergonha.
Depois, lá nos ajuntáramos. Ficáramos a dormir naquela casa que andavam a fazer além, por cima da estrada.
Já fizéramos as bodas de ouro. Foi coisa linda! Aquele dia foi uma brincadeira. Fôramos umas 30 e tal pessoas ao casamento. Eram os que estavam em Lisboa, sobrinhos, cunhados e cunhadas, era os que cá estavam, o meu irmão e irmãs, foram todos. Só os que estavam na França é que não vieram, porque diz que é muito longe. Tive pena de eles cá não virem. O meu genro, que não era meu genro, é que nos tirou as fotografias, que eu tenho lá com os meus netos. Pois, ainda naquele tempo só tinha netos. Netos e netas. E depois fôramos comer ali a Côja, lá num sítio que chamam o Lagar. Já lá fôramos comer umas poucas de vezes. Ainda aquilo foi ali um pagode. Foi um dia de farra.
Só usei a aliança quando foi as bodas de ouro. O casamento não tinha aliança nem nada. Quando foi das bodas de ouro é que comprámos as alianças. Já as lá tinha uma neta minha que se casou em Maio. Diz que eram brancas. Os meus filhos queriam-nas comprar. Mas, depois, nós não queríamos estar a explorar os filhos, compráramo-las. Ele tem-na lá, na gaveta. A minha veio para o dedo, nunca mais dali saiu para fora.