Casas da aldeia

Nascêramos onde é agora a Casa do Povo, aquele salão. Foi donde eu nasci. A casa era pequena. Por baixo, tinha duas lojas. Tínhamos, com licença, o porco, que era mais para além. E para o lado de cá, tínhamos a loja do vinho, das arcas com o milho, com os feijões. Em cima tinha um sótão e lá tínhamos duas camas. Era só dois quartos, mas ainda tínhamos a escada “pia cima” por onde íamos para a rua. Tínhamos que ir por as escadas acima. Se caísse da escada, caía de cima da cama! Nunca me lembra cair para lá, mas era assim. Tinha uma porta para a rua que, depois, com a estrada, ficou sem efeito. Só tinha uma sala e tinha a cozinhita, mas também não era muito grande. Puseram uns bordos em volta e a cozinha no meio, que ainda não era como agora que têm fogões e tudo. À porta, tínhamos assim um retirozito, mas era pouco. Tínhamos lá uma estrumada, porque, antigamente, não havia casas de banho, não tinha a gente comodidade nenhuma. Quando fosse para fazer, com licença, o serviço, às vezes, tinha que fazer no bacio. E lá espetávamos para a estrumeira. Depois carregávamos o mato para o renovo. E reproduzia bem! Não me lembra já como tomava banho. Não sei como é que eles se lavavam. Tinha que a gente andar por lavar. Então, não tínhamos casas de banho… Agora já é outra vida.

Quando dividíramos as casas, calhou à minha irmã aquela casa. Depois, lá resolveram vendê-la. Ela foi para outra que têm aqui em baixo. E agora, coitada, está sozinha. Morreu-lhe o marido aqui há uns dois ou três anos. Lá vai indo. Lá tem umas cabritas e sempre as tem tido para andar mais entretida. Eu fui lá para cima, para uma casa que era dos meus sogros. Estive lá até fazer uma cimeira. Para cima, estão umas barracas, para baixo está uma “casola” ao lado de cima e a minha é por baixo da estrada, onde está aqueles arbustos “pia baixo”. Fê-la o meu marido de todo. E depois de estar feita, fôramos para lá. Era malhadinha! É terreira. Só tem um andar e tem sótão por cima. Está a sala de um lado e a cozinha do outro. Mais para além, está um quarto para cima. Agora, é despensa. Puséramos lá umas prateleiras, que compráramos. E lá tenho uma cama. Quando é preciso lá dormir, dorme-se. Tira-se o coiso, está lá o colchão. Temos lá a cozinha também, está a casa de banho, está um quarto e, em frente, é uma sala. Tem o quarto para um lado e a sala para o outro. Agora, donde dormimos mandamos-lhe pôr tela por fora para não ser húmida. E afinal é húmida à mesma. O quarto donde a gente dorme, não sei se é do nosso calor, se do que é, já o pintaram um ano e agora dois e já está quase todo negro da parte da janela. Em calhando, tem que se tornar a pintar. Mas torna-se a pôr outra vez na mesma.