“Tínhamos que vir outras cinco horas a pé”

Fui para as minas já estava casado. Tinha uns 27 anos. Andei lá um ano. Para ganhar para fazer uma operação. Ou fazerem-ma. No fim de lá andar um ano, saí e fui operado.

Tínhamos que ir cinco horas a pé ao domingo. Ainda tínhamos que levar a comida para toda a semana. Gastávamos cinco horas daqui até lá às minas da Panasqueira a pé. Depois à sexta-feira vínhamos, tínhamos o sábado. Tínhamos que vir outras cinco horas a pé. A esposa tinha que criar os filhos e tinha que trabalhar nas fazendas. Eu só vinha ao sábado. Ao domingo tinha que abalar.

Depois é que foi pior. Fui para a construção civil. Isso, há tantas coisas ruins que eu passei no fim da vida, no princípio, no meio. A gente a trabalhar no duro, a molhar-se. Muitas vezes molhava logo de manhã as calças, só à noite é que as tirava. Enxugavam-se nas pernas. Assim as pernas hoje andam podres. E os mais trabalhos em trabalhos longe, na construção. Era a chover e tinha que se andar ali.