Carga de trabalho

Na minha casa agora está lá a minha companheira, a mulher. Fazemos o que calha. Semear terra para umas batatitas, uns feijões, uma horta. Milho já não por via dos bichos que estragavam tudo.

Animais não tenho nenhum. E não estou arrependido de acabar com tudo. Tínhamos cabras e ovelhas. A primeira coisa a acabar foi com as cabras, depois foi com as ovelhas. Acabou-se, foi uma beleza. Não se anda apanhar frio a ir tratar delas. Eu não as tinha no povo. Era adiante, para cá do Castanheiro da Memória. Agora se as tivesse era uma carga de trabalho. Uma pessoa com uma certa idade, ir para lá, estivesse frio ou vento, tinha que ir tratar delas. Chegava-se a hora de as tratar, tinham que se ir tratar. Tem que se ir tratar e o sacrifício que eu passava para as ir tratar. A minha mulher também ia muitas vezes. Não era só eu. Era o que calhava. Eu ajudo-a naquilo que posso e ela também ajudava naquilo que podia. Era assim. Lá nisso, é uma maravilha.

O que faço chega para me entreter, por isso, não me interessa gostar de ver mais. Mudar a minha idade para mais novo é que eu gostava. Se pudesse ser, mas não pode ser.