Tempos de criança

Eu ajudava os meus pais. Até a mulher eu ajudo agora, quando posso. Ajudava tudo o que podia. Roçar mato. Os animais eu ia botar-lhe de comer quando era de manhã.

Crianças havia mais que há agora. Agora é que não há nada, a bem dizer. Quando era novo brincávamos todos juntos. Era na rua. Assim aí num sítio qualquer que fosse jeitoso. Brincadeiras de rapazes. Havia o jogo do botão. Era um buraquinho que havia, a ver qual é que lá botava o botão. Botões da roupa, desses botões maiores. Não era dos pequenitos.

A roupa era daquela que defendia do frio. Era boa, de lã. Aquilo é que era bom. Não é como agora. Só se vê é trapos. Deixam entrar o ar e não são quentes, macias. Tinha botas e tinha tamancos. Naquele tempo até se usava era tamancos quando estava mais frio. São mais quentes. Um tamanco é madeira por baixo e é por cima o cabedal. Chama a gente o cabedal. É de bois e de vacas. Isso é que era bom. Não era de plástico como agora. O plástico não deixa entrar a água, mas é frio.