“A maioria das vezes ia a pé”

O comércio não era como agora. Nem havia cá nada na Mourísia antigamente. Não havia comércio nenhum. Não havia cá Casas do Povo como a que está.

O peixe ia-se buscar às feiras. À feira de Côja, à feira de Arganil. Não era preciso ir todos os dias. Trazia-se de um dia para o outro ou para o outro, se fosse preciso.

Não havia transportes como agora. A maioria das vezes ia a pé. Eu ainda me lembra ir para Arganil a pé. Ir e vir. A pé ainda é um bocado. Traziam-se as coisas às costas, ao ombro, num saco, de qualquer maneira. Como se podia melhor. Não havia outra solução. Não sei o tempo que demorava, mas demorava-se bastante. Duas horas para cada lado não chegavam. Hoje nem lá chegava a pé.

Estradas de carros, para andar os automóveis, não havia. Só a pé e carros de bois. Buscar mato, buscar lenha, eram os bois. Eram dois bois a puxar a canga de madeira. Era um carro com duas rodas. Tinha um taipal por cima, aquilo em volta, dos fogueiros. Traziam ali um poder de lenha ou mato, o que fosse preciso. A lenha era para queimar, para a gente se aquecer, fazer de comer, para a cozinha.

O correio era um estafeta que andava com umas malas ao ombro, às costas. Tinha várias caixas. Como tem agora umas caixas, enfiava e ia-se embora. Não andava a distribuir de porta em porta como agora. Era a pé. Lembra-me mais do que um. Os da Mourísia era só ir buscar e levar ao Sobral Gordo. Mais nada.