“Carne mais gostozinha”

Animais havia ovelhas e cabras. Era para amassar o mato, comer a erva e darem leite. Aquelas que davam. Muitas não davam. Não eram ovelheiras. Não eram boas para leite.

Porco também havia. Matava-se na rua. Quem matava era o meu pai até. Desde que me começo a lembrar foi o meu pai. Era sempre de manhã para depois irem lavar as tripas. Matava-se e depois pendurava-se. Punha-se-lhe num bocado de madeira. Chamava-se um chambaril. Punha-se em cima dependurado.

Aquela carne era melhor que é agora. Punham na conserva aquelas que não eram para comer logo. Não havia frigoríficos nessa altura. Era salgadeira. A carne punha-se na salgadeira. Esfregava-se com sal. Tinha uma tampazinha. Ia-se tirando conforme se ia precisando de comer. Isso é que era carne mais gostozinha. Fazia melhor que agora.

As tripas eram para encher. Para se pôr umas de uma qualidade, outras de outra e outras de outra. Conforme as qualidades que queriam fazer. Umas chamavam-se de sangue, outras de morcela, outras de carne. As melhores eram as de carne. Essas chouricinhas é que eram boas. E mesmo farinheiras gostozinhas e tudo isso. Agora vai-se comprar aí a um lado qualquer, não prestam para nada. Sejam de carne, seja farinheira. Para mim não tem valor. As chouriças guardavam-se em azeite numa panela. Chamava a gente uma panela de azeite. As panelas eram de barro vidradas por dentro. Enterrava-se ali no molho as que era para guardar a carne. O lombo do porco tirava-se. Também se arranjava. Punha-se dentro também de azeite. Aquilo tirava-se depois um bocadinho, era comer e chorar por mais. Agora isso que se compra não tem gosto que preste.

Tinha um caniço. O caniço servia para secar as castanhas. As chouriças era por baixo. Aquelas que eram para secar. As castanhas eram por cima.