“Pedi a minha esposa em casamento logo no baile”

Pedi a minha esposa em casamento logo no baile. Perguntei-lhe se ela entendia que gostava de mim. Ela respondeu-me que ia falar com o pai e com a mãe e depois ao outro dia disse-me que sim. Aqui era assim.

Nas vésperas do meu casamento ia-lhe esfregar a cara na brincadeira e ela fugiu, julgando que eu lhe ia roubar um beijo.

Foi ela e os pais que trataram dos preparativos todos do casamento. Eu comprei as alianças e paguei o vestido dela. Estava em Lisboa, não tratei de nada, mas vim oito dias antes do casamento.

Ia vestido com um fato preto, camisa branca e gravata. Naquele tempo não se usava chapéu. Eu ia um moço assim à maneira. A minha mulher ia de vestido e véu.

Casei-me na Benfeita. Nessa altura a estrada ainda só chegava à Nossa Senhora das Necessidades. Fui com uma carrinha até ali, que um patrão de um irmão meu me emprestou. Parei e tive que vir a pé com as malas que trazia. Quando fui de volta, fui novamente com as malas às costas, eu e a minha mulher. Fomos a pé pela estrada velha. Ao meio da povoação, há um caminho dos carros de bois. Atravessava-se uma ribeira por cima de uma ponte, continuava-se o caminho dos carros de bois até chegar lá adiante ao pé da Nossa Senhora das Necessidades. Descia-se no São Bartolomeu, na Santa Rita. Onde estão agora umas escadarias, nesse tempo era uma calçada e a gente descia por aí até à igreja pelo caminho dos carros de bois. Demorávamos não chegávamos a meia hora a ir daqui para baixo e a vir para cima. A minha futura esposa foi comigo e veio comigo. Não é como agora, que um espera na igreja. Depois voltáramos para os Pardieiros para comer. Comêramos ali no meio da povoação, numa casa que já está modificada e que era precisamente por trás da casa onde eu vivi.

Quem preparou a comida foram as mulheres. Foi a minha mãe, a minha sogra e mais duas ou três pessoas que ajudavam a fazer a comida. Havia comida para quase oito dias. Faziam os coscoréis, tigelada, arroz-doce, fressuras, carne fresca, batatas fritas, outras vezes estufadas, e pão de milho. Era tudo feito mais especial para o dia do casamento. De prenda de casamento, o meu padrinho deu-me 150 escudos.