“Podíamo-nos meter no cú do burro e deixar a mão de fora”

Os namoros eram diferentes de agora. Antigamente a gente estávamos aqui e eles estavam lá em diante. Até ao dia do casamento não havia beijos, nem havia apertos de mão. Deus nos livre! E que vissem! Podíamo-nos “meter no cú do burro e deixar a mão de fora”. E o meu pai então que morou toda a vida na cidade sabia. Se alguém visse já não se casava mais, já estava assim, já estava assado.

- “Olha já vão com a mão um no outro, olha que vergonha.”

E então enchia-se aqui as terras pequenas, era um sussurro. Quando a gente passava calava-se tudo bem calado, quando a gente seguia era o fim do mundo por trás das pessoas. De mim não, que graças a Deus não aconteceu isso comigo, mas acontecia com outras pessoas, às vezes até na paródia. Faziam aquilo na paródia de darem a mão uns aos outros. Não se podia fazer nada disso. Agora a gente até acha admiração da maneira que a vida mudou. Eu namorei pouco tempo. Foi só de Janeiro até Setembro. Diziam os antigos, “quem bem faz a cama, que bem se deita nela”. E eles é que sabiam. Mas era aquelas modas a gente tinha que fazer conforme eram os tempos, não havia outra maneira de ser.