O que era preciso era saber fazer uma carta de jeito

Fui à escola e fiz a terceira classe. Não quis fazer mais. O meu pai queria, mas a minha mãe queria era trabalho, queria que eu andasse ao pé dela e eu para andar a trabalhar não podia estar na escola. Antigamente sabendo fazer uma carta de jeito era o que era preciso.

A escola era na Senhora da Saúde. Agora botaram-na ao chão. Mais tarde era aqui em cima uma, mas está tudo a cair para o chão. Também fizeram ali não sei para quê, já pouca gente andou a estudar.

Antigamente havia muitas crianças, era a escola cheia. Era muita gente mesmo no meu tempo, mas já tinha havido mais. Ainda cá há dois rapazes mais pequenos e há outros maiores que andam a estudar em Arganil. Está isto a acabar tudo, ao que já foi. Não há crianças. Antigamente eram cinco e seis numa casa, depois já começou a ser menos, três, quatro ou cinco, mas quando ia a cinco já era muito. No meu tempo as escolas estavam “atacadas”. Sentávamo-nos nuns banquitos pequeninos, baixos e no chão porque não cabíamos nas carteiras. Éramos a primeira, segunda, terceira e quarta classe tudo na mesma escola. Andávamos todos juntos, às vezes a levar porrada uns dos outros, dos mais velhos. Não havia cá escola para os rapazes e para as raparigas. Era uma e chegava e já não era nada mau.