Sete filhos, um lobisomem

Lobisomens, havia muitos antigamente porque as pessoas tinham muitos filhos. Quando tinham sete rapazes, um era lobisomem. Se for uma rapariga é uma bruxa, se for rapaz é lobisomem. Quando chegava para aí à meia-noite, uma hora, vinha-lhes aquele fado que eles tinham que correr sete freguesias numa noite. Havia pessoas que se escondiam para eles não as verem, porque eles iam feitos em bichos e matavam as pessoas se as vissem.

Tinha um tio que era da banda do meu marido, que tinha uma propriedade ali para baixo para ao pé da ribeira, com bois. Tinha de lá estar até à meia-noite e mais, para tratar os animais. Ele estava a chegar à estrada para vir para casa e deu com um barulho muito grande. Só teve tempo de se deitar debaixo de faixas de “canoilos” que lá tinha do milho. Ele andou ainda às focinhadas aos “canoilos”. Viu-se em “papos de aranha”. Estava a ver que ficava lá aquele dia. Eles são perigosos. No primeiro bicho que encontrassem, apanhavam o rasto deles e ficavam iguais ao bicho. E tinham de correr sete freguesias numa noite.

Ele tinha por modo uma cura. Era preciso arranjar uma aguilhada, que é daquilo de baterem nos bois quando eles andam a lavrar. Punham uma agulha espetada da ponta dessa aguilhada, estavam numa janela muito alta e quando eles vinham a sair das casas de onde estavam a viver picavam o homem que se ia a fazer no bicho. Mas a pessoa tinha que ter coragem e tinha de saber onde picava. Picavam-no e aquilo por modo que saía dele. A pessoa que fazia o trabalho tinha que sair logo senão ficava ela com o fado do outro. Uma vez, por modo ouvia a contar, os antigos que fizeram isso aí a um e depois cegaram-no, coitado. Picaram-no na vista, calhou de ser. Porque uma pessoa conforme pica tem de fugir logo. Por isso muita gente não queria fazer aquelas coisas.