Broinhas, figos secos e nozes

Pelo Natal havia bailes, dançavam muito. Quando estava a chover, nas casas onde se malhava os milhos, havia grandes bailes. O meu Natal nunca foi grande coisa porque o meu pai andava em Lisboa e a minha mãe ia para lá passá-lo com ele. Eu passava o Natal com uma tia minha que morreu já há uns aninhos. Era uma tia que era muito minha amiga, era a Generosa. Não sei se havia bolo-rei, mas havia muitas broinhas do Natal e o meu pai mandava-me muitas caixas de broas para cá, figos secos e nozes para a gente festejar o Natal. O resto era do que havia em casa: carne, enchidos e tudo o que calhava. Se havia, também se matavam galinhas, coelhos, um cabrito ou um borrego. De doces não se faziam grandes coisas. A gente antigamente comia doces, mas era mais só assim, aqueles doces da tradição. Era a sopa de leite, que era muito boa, o arroz-doce, a tapioca, a tigelada e os coscoréis. Não havia estes doces que agora fazem. A primeira vez que eu disse à minha mãe que tinha feito em casa pudins e mousses de chocolates ela disse-me assim:

- “Quem é que te ensinou a fazer isto? Ai é tão bom!”

E dizia eu assim:

- Olha aprendi.

Também fiz muita broa de milho. Era muito bom, com muita mistura, fazia-se aquelas broinhas. Eu comi muito pão de trigo, que o meu pai trazia muito de Lisboa. Eu fui mimosa disso. Comia coisas que por cá pouca gente comia.