“Já não há vista, nem crista”

Sou católica e graças a Deus gosto muito da minha religião. Aqui em Pardieiros há festas religiosas. Há festa do São Nicolau e da Senhora da Saúde. Antigamente eram muito melhor. Como as escolas abriam muito mais tarde faziam a festa só em Setembro. Agora a festa é no mês de Agosto. As escolas começam a abrir mais cedo e tiveram que pôr a festa também para mais cedo porque as crianças tinham que ir para a escola e os pais não podiam cá estar com elas. Eram umas festas em que a gente andava meses a cantar e a dançar. Agora já não é nada disso. A música, às vezes até vinha nas vésperas, mas no meu tempo já vinha de manhã. Tocavam todo o dia. A concertina a tocar, guitarras e violas e a gente a dançar. À meia-noite, uma hora é que a música se ia embora lá para as terras deles e a gente ainda ficávamos a dançar. Quando eles iam na Malhadinha, que era a seguir para o Monte Frio, ia a gente na carreira a dançar, ainda a aproveitar. Eles paravam no meio da Malhadinha a tocar e a gente ali a dançar. Nas festas haviam homens que cantavam muito. Cantavam, mandavam o fado vir. As pessoas de antigamente eram muito alegres. Tudo tocava, cantava, era tudo uma alegria. As pessoas não tinham dinheiro, mas tinham alegria. Agora não. “Já não há vista, nem crista.”