De véu e flor de laranjeira

Eu e o meu marido fôramos casar à Benfeita. Fôramos 6 quilómetros a pé daqui para a Benfeita e de lá para cima outra vez. Fui em jejum porque naquele tempo a gente tinha de estar em jejum para tomar o Nosso Senhor. Ainda levaram qualquer coisa para a gente lá comer, porque já passava do meio-dia quando foi o casamento. Íamos todos juntos, dois padrinhos e duas madrinhas, a noiva à frente com o padrinho e ele ia atrás com a madrinha dele. Lembro-me disto porque o meu padrinho dizia assim:

-“Eu não sou o noivo, quem é o noivo é o que ali vem atrás.”

Ele gostava de brincar e dizia aquilo. Antigamente era assim. Agora nem se podem ver, só na igreja. Se os noivos eram de fora da terra estava já combinado a hora a que havíamos de sair e a quando haviam de chegar lá.

O vestido era branquinho, todo enramado às flores. Era muito bonito. Eu era magrinha e o vestido também era estreitinho. Era o véu, a flor de laranjeira na cabeça, fazia uma coroazinha, e um ramo na mão também de flor de laranjeira. Ainda a podia levar que ele ainda nem tinha posto a mão dele na minha e nem nunca me tinha chegado com os lábios à cara para me beijar. Agora dizem que já não podem levar, mas levam na mesma.

Ao fim de vir de lá para cima é que estava a boda feita para comerem. A boda era feita pelos pais da noiva e do noivo. No meu ainda foram cento e tal pessoas. Foi muita gente. Era uma casa “atacada”. Ainda tiveram que pôr uma mesa, por cima, para lá comerem mais pessoas, mas não couberam e tiveram que ir para outra sala na casa da tia Generosa, no andar de baixo que é amplo.