“Tenho uma vida mais livre”

Eu fui para Lisboa trabalhar durante pouco tempo, meio ano. Foi aí há uns 26 ou 27 anos. Já estava casado e a minha esposa acompanhou-me. Na altura, ela não fazia nada porque para além da estadia ter sido curta, o meu filho mais velho ainda era pequeno. Fui para Lisboa para ver se me governava lá mais, se ganhava mais, mas acabava por ganhar menos que aqui. Eu ganhava lá 7 ou 8 contos e aqui já ganhava uns 30 nas colheres. Em Lisboa tinha de trabalhar muitas horas, de noite e de dia. Assim, mais vale ir para Pardieiros que tenho uma vida mais livre. Ao ser empregado em Lisboa, tinha que cumprir os horários e eu assim aqui trabalho o tempo que quero. Não trabalho menos por isso, trabalho até mais, porque trabalho muito mais horas, mas se me apetecer amanhã sair e ir fazer outras coisas, não tenho contas a dar a ninguém, nem a pedir a ninguém. Não tenho de estar a pedir a patrões nem nada. Eu sou patrão de mim mesmo. Por isso eu costumo dizer:

- Eu faço aquilo que quero e me apetece e ainda me sobra tempo.

Passado meio ano regressei a Pardieiros, gosto mais destes ares daqui e do trabalho aqui.

As pessoas que saem aqui da terra vão mais para Lisboa. Não estou a ver ninguém daqui no estrangeiro.