“Eu à professora fazia tudo!”

Eu nunca andei noutra escola senão aqui nos Pardieiros. Na escola, pelo menos na quarta classe, no meu ano éramos oito, todos daqui da freguesia. Como não tinham lá escola, juntava-se aqui também o Sardal e o Enxudro.

A minha professora chamava-se Ana Augusta. Era boa professora. Eu fazia-lhe tudo. Até estendia e apanhava roupa, ia-lhe levar as cartas à Benfeita ao correio e tudo, a pé! Ela achava-me jeitoso para isso e também contava para não levar reguadas.

Não era sempre eu que lhe ia levar as cartas à Benfeita. Havia um que uma vez foi-lhe levar o correio e depois escondeu-lhe as cartas, pô-las debaixo de uma pedra. Mais tarde uma rapariga aqui da terra andava lá a roçar um bocado de mato para os animais e encontrou lá aquilo. A professora veio a saber e um dia chamou-nos a todos para saber quem tinha sido, senão levavam todos. Mas depois ela descobriu quem foi e já não houve festa aquele dia.

A professora tinha muita correspondência, muita mesmo. No dia em que ela não tivesse correspondência já não ficava satisfeita na escola e era mais complicada. Quando ela tinha cartas, começava-se a rir já ficávamos mais à vontade.

Ela ensinava bem e havia aqui um rapaz que tirou o 12º ano com ela e tudo. Só levava a exame quem realmente soubesse que ficava bem. Eu por exemplo, fiquei mal um ano porque ela mandava-me os deveres para eu fazer em casa mas eu não fazia nada. As contas que ela me passava, eu sentava de manhã, metia os números tudo ao calha, tudo à sorte. Fazia sempre, mas nunca ia nada certo, era tudo feito à toa. Eu não gostava e não me dedicava à escola. Depois para o fim a professora também se começou a relaxar um bocadito. Já não foi na minha época, mas começou a mandar os miúdos buscar azeite que os pais tinham e outras coisas de casa para ela, mas as mães começaram a descobrir.