Do milho ao pão

Quando era a malhar o milho, os homens malhavam e as mulheres “descasular” o milho. Às vezes, numa casa destas éramos aí 20 ou 30 pessoas. Tanto homens como mulheres a “descasular” o milho. Cantávamos, dançávamos. Depois mandávamos espigas a uma, espigas à outra. E era assim que a gente fazia. Quando andavam nas fazendas os homens cavavam e a gente tupia. É diferente. As mulheres é diferente dos homens. A secar o milho levava dia e meio, às vezes dois dias é que andava ao sol, para ir bem sequinho. Depois ia para uma arca. Quando a gente queria, ia buscar o milho à arca, levava ao moinho, fazia a farinha, para depois fazer o pãozinho. Havia muitos moinhos na aldeia. Agora já está tudo estragado. Ali na Fraga da Pena havia três. Havia aqui em baixo uma fazenda que a gente tinha que era a Boldorida que tinha dois. Havia uma fazenda, ali à face da Avilheira que tinha outros dois. E havia uma fazenda que era o Canavial que também tinha um. Que eu me lembre. Os moinhos eram de particulares, o que era é que, por exemplo, eu tinha um mas deixava moer as pessoas. A gente fazia a farinha, depois peneirava-se com uma peneira. Depois amassava-se, depois levedava. Depois ia para o forno cozer. Os fornos eram comunitários. Ainda havia aí uns sete. Aquilo era a qualquer hora. Por exemplo, o forno era meu. Alguém queria ir:

-“Olhe amanhã deixa-me cozer a broa?”

-Deixo.

Pronto, a pessoa podia ir cozer de manhã, à tarde. Era o que queria. Se fosse mais do que uma pessoa a cozer então a minha broa, por exemplo, ia sem nada e o da outra pessoa levava um buraco. Já se sabia que esse era dela. Se eram três pessoas o outro apertava, parecia um nariz. Assim conheciam. A broa era de milho com centeio. Ou, às vezes, fazia-se só de milho ou só de centeio. Era conforme queriam, e conforme o que havia. A melhor para mim é a de mistura, de milho com centeio.