Para o baile punha a melhor roupa

Eu ia ao baile mas só o de cá da terra. Fora da terra a minha mãe não me deixava ir. Uma vez fizéramos aí um rancho, depois fazíamos umas saias de papel. Nessa altura, só havia em Pardieiros um rapaz solteiro que era da minha idade. O mais eram só homens casados. Depois arranjáramos e fôramos para o Sardal, para o Enxudro, dançar com os homens casados. Foi um rancho que a gente fez, mas foi giro, foi bom. Pelo Carnaval é que se faziam uns bons bailes. Também vinham rapazes de fora, dançar. Nessa altura punha a minha melhor roupa. Tinha de ser. Uma saia, uma blusa, um vestido. Daqueles vestidos de chita que se usava naquele tempo. Agora não. Agora usa-se dois, três fatos por dia. Naquela altura não. Dançava descalça e gostava. Era cada pisadela que os homens me davam. Os meus pais eram pobres, depois tinham cinco filhos, já se sabe. Quem diz a minha mãe, diz os outros, que havia com sete e oito filhos. Também seria a mesma coisa, não sei. Lá na casa deles não sei o que se passava. Mas seria a mesma coisa.