“O dia da matança do porco era uma alegria”

O dia da matança do porco era uma alegria. Vinha o matador, o tipo indicado para matar o porco. Matava-se o porco, sangrava-se o sangue, carregava-se no pescoço. O sangue depois era para o enchido. No dia da matança do porco, em minha casa, fazia-se assim: vinha o matador, o porco depois de morto era estendido, eram chamuscado os pêlos, era lavado, raspado para ir a carne limpinha, lavadinha, esfolada. Fazia-se-lhe a barba como faziam os barbeiros, aos fregueses.

Havia uma coisa que chamavam o chambaril, metia-se-lhe nas patas traseiras, o porco era pendurado numa loja e então o matador do porco abria-o, tirava-lhe as partes que tinha que tirar para fazer as chouriças e torresmos. Na altura que o porco estava preparado para ir para a loja, para se pendurar, havia umas garrafinhas de vinho, havia umas postas de sangue cozido, punha-se um prato em cima do porco e era ali a festa, a primeira festa do porco.

Depois iam para a sala principal da casa, juntava-se a família, juntava-se o homem que matava o porco e ali comia-se e bebia-se.