Homens em Lisboa, as mulheres na terra

Os meus pais trabalhavam só nas fazendas. Cultivavam milho, batata, feijão. Eram estas coisas assim. Púnhamos couves, alfaces, tomates, pepinos. Eu também ajudava. Depois o meu pai foi para Lisboa vender fruta. Talvez eu tivesse uns 12 a 15 anos. Não tenho a certeza. Aqui a gente não se governava e o meu pai foi ver se ganhava algum dinheiro. Já tinha, em Lisboa, duas irmãs. Noutros tempos, os homens iam para Lisboa e ficavam cá as mulheres. Andavam lá um ano e dois sem cá virem à terra. Os meus pais comunicavam por carta. Vinha cá o carteiro. Depois o meu pai veio para a aldeia e quando fomos nós para Lisboa, a gente é que mandava coisas para o meu pai e para a minha mãe. E assim se foi vivendo. A minha mãe foi a Lisboa só uma vez. Foi de visita. Quando o meu irmão casou, teve a filha e ela foi ao baptizado da neta. Aos 72 anos a minha mãe faleceu e o meu pai ainda ficou. Depois o meu pai foi para Lisboa para o pé dos filhos. Morreu com 83 anos.