“Só andava bem de agulha na mão”

Eu fiz alguns trinta e tal tapetes de arraiolos. Fazia de cabeça. À toa. Uns tirei de um livro, o resto era tudo de cabeça. Aprendi a dar o ponto e depois fazia-os da minha cabeça. Ensinou-me a minha irmã que era mais velha do que eu. A minha sobrinha também tem coisas muito lindas que a mãe fazia.

Ainda fiz umas almofadas para o meu casamento. Naquele tempo usavam-se pequeninas. Eu não as uso porque são pequenas, as de agora são grandes. Mas é uma recordação.

Naquele tempo usavam entre camas. Era uma coisa à frente da cama. Tapava a frente da cama até ao chão. Chamavam-lhe entre camas. Entalava-se entre os colchões. O lençol fiz também com raminhos e com a mesma bainha das almofadas. Rendas lindas que eu fazia! Tenho jogos de naperons muito lindos. Até cortinas de rendas para a janela eu tinha na minha casa. Aí que nunca me esqueço. E colchas! Tenho uma colcha de renda muito linda, que eu fiz. Mas está tudo metido nas arcas. Até tenho uma toalhinha bordada com os bonecos dos ranchos. E é muito gira a toalha, mas também está para aí metida nas malas, não sei onde.

Eu só andava bem de agulha na mão. Fazia cercaduras, flores, tudo. Agora já não faço. Já tudo tem tanta coisa que já nem rompem o que têm. Dei quase tudo. Eu era muito amiga de dar. O meu marido às vezes dizia-me assim:

- “Ó mulher se eu morrer primeiro que tu, tu morres na miséria porque dás tudo.”

Dizia-me muitas vezes isso:

- “Não dês isso”.

Eu só estava bem assim. Aquilo que entendia dava, não gosto de aferrolhar. Não gosto.