“Um vestido e um véuzinho na cabeça”

Eu casei-me com 33 anos. Não era apressada para me casar.

Primeiro pediam-nos a nós em casamento e depois era aos pais. O meu marido disse-me:

- “Olha nós vamo-nos casar e vamos ser felizes os dois.”

Foi assim que a gente começou. E fui.

Eu ia todos os domingos a casa da minha patroa e ela dizia-me assim:

- “Ó Natalina, o teu marido quem o vir na rua diz que é um diplomata.”

Digo-lhe eu assim:

- Também, se ele não fosse assim, minha senhora, nunca me casava.

Ele era embarcadiço. Antes disso, estava na casa dos pais. Trabalhava no campo. O pai tinha um rebanho de gado e ele também o ia guardar, também fazia de pastor.

No dia do meu casamento o meu pai já tinha morrido. Foi em Lisboa.

Levava um vestido e um véuzinho na cabeça. Não era vestido como agora vão. Era um vestido não era bem branco.

Uma cunhada minha fez-me o vestido. Essa é que me fez o fato do casamento.

Ia muito bonita, o que é não era como agora com aqueles véus a varrer o chão. Para quê? Para de hoje a amanhã se largarem um do outro? Que é o que se agora vê.

A festa foi no Bairro Alto, no restaurante onde trabalhava um rapaz de Chaves, que era muito amigo das gentes do meu marido. Foi lá no restaurante que foi o copo de água. Já não me lembro o que tínhamos para comer. Mas era comida típica de lá. Tudo de lá.