“Era barbeiro, mas era um médico dos bons”

Sempre houve médicos, mas muito poucos. Agora há mais. Quando uma pessoa está doente vai daqui para Arganil. Lá, se se entendem com a pessoa, muito bem, se não entendem, mandam-nos para Coimbra. Naquele tempo, não havia estradas e mesmo os correios que andavam por as terras era a pé que faziam as coisas. Mas havia um médico bom. Era o José Augusto Martins, chamavam-no “Linhaça”, que era da Benfeita. Bem, ele não era médico, mas sabia mais que alguns médicos. Era muito atencioso e eu gostava muito dele. Já me curou a mim!

Uma vez, deu-me uma dor nas costas. Andava muito mal, cheguei mesmo a afanar! Uma comadre minha, que ia para Côja com a filha, queria que eu fosse também, mas eu não. Ia com aquela ideia de ir para ele. Fui daqui direita à Benfeita. Nessa altura, já havia a Casa do Povo lá. Eu cheguei, ele escutou-me e diz-me assim:

- “Oh, como você vem! Você tem uma paralisia.”

- Não sei. Eu constipei-me. Com certeza não sei de que foi. - disse eu assim.

Depois ele deu-me logo ali uma injecção e uns comprimidos e disse:

- “Você, no sábado, vai ali ao médico.”

Depois, é claro, todos os dias andei a correr para lá. Chegou-se o sábado, fui ao médico. O médico disse-me o mesmo como ele disse e receitou-me a mesma coisa. Depois ainda andei muito tempo a tomar medicamentos mas, por Deus Nosso Senhor, até hoje nunca mais tive nada.

Ele era barbeiro, mas era um médico dos bons. Depois ficou o filho também. Chamam-no António “Minas”. Ainda está vivo mas anda numa cadeira de rodas já. Ainda há pouco tempo, cá veio a neta trazer o almoço a um casal que vai comer ao lar. É a Adélia, que também ainda aprendeu muitas coisas com ele.