“Eu sou do meu pai, porque vivi sempre com ele”

O meu pai chamava-se Manuel dos Santos e a minha mãe, lembro-me de ouvir dizer, era Maria Delfina de Jesus. Ela morreu quando andava o meu pai, que Deus tem, num lagar em Avô. Como ainda não havia telefone nem nada, tiveram que lá ir chamá-lo. Morreu no andar de baixo da casa onde vivo. Há muito tempo que a minha mãe já estava doente, mas não sei a doença que tinha, não me lembro de nada. Recordo-me apenas que lhe traziam fruta quando estava doente e ela dizia-me assim:

- “Queres comer!? Mas não comes, não!”

O meu pai era de Cernache do Bonjardim e, coitado, andava no campo, cavava terra e serrava lenha. Era serrador. Ia para as matas serrar pinheiros com umas serras grandes. Até chegou a ir lá para trás da serra. Quando isso acontecia, a minha segunda prima - chamava-a tia - é que olhava por os animais e por mim. Depois que a minha mãe morreu, nunca mais se casou, nunca mais quis nenhuma mullher! Eu sou do meu pai, porque vivi sempre com ele. Morreu com 82 anos, já há mais de 50.

Tenho um irmão. Eles eram dois, mas um morreu no caminho da Senhora das Preces. Ficou só um, que ainda está vivo. Já tem quase 100 anos! Está em Lisboa. Casou e foi novo para Lisboa trabalhar. Andou sempre por lá, não sei se a vender frutas, se quê. Vinha cá só de visita. Era assim. As pessoas saíam daqui dos Pardieiros e iam trabalhar para Lisboa, uns para uns empregos, outros para outros. E, em primeiro, não vinham para aqui como agora! Andavam por lá muito tempo. Depois vinham, passavam as festas e tornavam a ir para o trabalho, para ganhar dinheiro. Mas eu e o meu irmão somos filhos da mesma mãe, mas não do mesmo pai. A minha mãe já tinha sido casada. Depois, casou com o meu pai.