Por cartas

A minha mulher era de Pardieiros. Ela é mais nova que eu. Estava na aldeia e eu vinha de Lisboa de vez em quando. Uma vez, deu-me na cabeça, escrevi-lhe! E ela respondeu. Andámos a namorar por cartas uns meses só. Já nem me lembro o que lhe escrevia. Mas não é como agora! Agora é diferente. Nessa altura, o sistema era completamente diferente. Agora, conhecem-se hoje, amanhã quase parece que já se conhecem há muitos anos. Nessa altura, os pais nem deixavam chegar ao pé delas! Tive de escrever ao pai. Sem autorização dos pais, nessa altura, não havia namorar, não havia nada! Tinha de ser com assentimento dos pais de parte a parte. Os pais dela sabiam, os meus e os de todos:

- “Ah, esta é que é uma rapariga jeitosa para ti. Vais ter aqui um futuro.”

Havia muito isso, porque dantes as famílias tinham muita influência. Se fossem pessoas mal vistas na aldeia, já diziam:

- “Ah, não, não! Isto não serve para ti, porque isto é gente que não interessa a ninguém.”

Mas não foi difícil convencer o pai dela. Nós já nos conhecíamos. Morávamos a 100 metros uns dos outros. Eles conheciam a minha família e eu conhecia a deles. Por isso, tudo foi fácil. Escrevi uma carta e ele respondeu. Disse que sim, que era connosco, que para ele era igual ao litro. Não havia nenhum problema.