“O senhor guarda não bebe uma cerveja fresquinha?”

Eu vendia lá cerveja e laranjada. Não podia, mas estava a vender. Tinha-as dentro dum balde com gelo para estarem sempre fresquinhas. O povo pegava muito naquilo. Viessem de baixo para cima ou de cima para baixo, agarravam naquilo! Quanto houvesse, quanto se vendia. Um dia, estava eu lá, quando chegam três guardas de Arganil. Dizem-me:

- “Ouça lá, quem é que lhe deu autorização de vir para aqui?”

- Fui eu! Tomei autorização. Ninguém me mandou. Se me mandassem, eu não vinha. É por minha livre vontade, vim!

- “Então, e que é aquilo que você tem ali?”

- É agua! Tenho ali água. Trago ali um animal - estava lá sempre um cãozito ao pé de mim -, ele volta e meia tem sede e eu boto-lhe água ali do balde.

Não é que ele vai e mete a mão pela água abaixo e encontra lá uma cerveja!

- “Você está multado!”

- Oh! Então? Mas estou multado de quê? Então o senhor guarda não bebe também uma cerveja agora, fresquinha? Uma garrafinha? Não bebe também uma cerveja? Se calhar até vem cheio de sede! - digo assim para ele.

- “Não posso. Não podemos aqui beber nada.” - já estava a amansar - “Nós indo fora do posto não podemos beber.”

Digo-lhe eu assim:

- Olhe, faça uma coisa. Vão ali à Fraga, em cima. Quando aqui não houver pessoal, vocês vêm para baixo e bebem cada um a sua. E vão fresquinhos dentro do carro “pia baixo”. E botem contas que não me viram! Botem contas que não viram ninguém, pronto.

- “Não podemos fazer isso! Não podemos fazer isso!”

- Oh! Quem é que agora cá vem ver se vocês beberam a cerveja ou se não a beberam? Eu dou-vos por nada, não vos quero dinheiro por ela!

Acontece que os gajos queriam-se fazer tão espertos, que foi a uma hora que não havia ali ninguém. Bem mamaram a cerveja! Beberam-na, botaram as garrafas para o meio de uns soitos que lá havia, foram-se embora, pronto:

- “Pronto, faz lá a tua venda, faz lá a tua venda!”

“Faz a tua venda!” É verdade. Eu não fiz mal nenhum. Eles, se calhar, até estavam com vontade de beber uma! Se não tivessem, também não iam lá apalpar o balde! Eu disse logo:

- Os senhores estão com vontade de beber uma, não estão? Bebam!

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