“Vou-te serrar aqui, velha!”

Havia a tradição de serrar a velha no tempo do Inverno. Era aí o fim do mundo, nesse tempo. Arranjávamos uma serrita e um bocadito de madeira e depois íamos, à noute, à porta das pessoas mais velhas da terra. Depois de aquelas pessoas fazerem tantos anos, nós íamos serrar a velha. Às vezes era só uma mulher ou um homem. Outras vezes, eram dois e três. Era conforme. Se fossem três, íamos a todos os três serrar a velha. Era o costume. Dizíamos assim:

- “Ó velha! Ó velha! Vou-te serrar aqui, velha! Vou-te serrar!”

E a gente com a serrita: ruca, ruca, ruca... Íamos de uma porta para a outra serrar a velha. Dizia que lhe ia chegar ao nó:

- “Ó velha! Ainda te vai chegar ao nó!”

E as gentes com as serritas, zumba, zumba, zumba na ripa.

- “Oh! Vai-te embora! Tu também hás-de ser velho! Vai-te embora!”

E a gente: sarruque, sarruque, sarruque, sarruque. Naquilo com umas serritas. Era mais a garotada que fazia isto. Homens adultos já não iam. Claro, já parecia mal. Agora, os garotitos não saíam das portas a serrar a velha. Mas elas não queriam! Se a gente fosse para o lado de baixo de uma janela serrar a velha, elas iam lá por cima buscar o bacio debaixo da cama e pumba, para cima da gente! Eram velhacas, más. A gente vinha todo molhado a cheirar a mijo. Tinha que vir para casa tomar banho. Mas não podíamos dizer nada, porque nós é que fazíamos o mal.