“Casa do pobre”

Lembro-me da casa dos meus pais. Tinha dois quartitos, não muito grandes. Tinha uma salita e ao lado uma cozinhita. Era toda em pedra, com um sobradito, já velho. Era assim a casa do pobre naquele tempo. Não havia prédios como agora. Havia terras grandes que nem se via uma casa pintada de branco. Tudo em pedra! Os telhados eram lajes. Não deixavam a água vir para cima da gente. Mas muitos tinham que abrir um chapéu para comerem dentro de casa. Na minha, não. Nunca me lembro de lá entrar água. Mas havia muitas que eram assim. E quando vinha, às vezes, anos de muito vendaval, arrastava aquelas lajes para o meio do chão, partiam, rachavam. Depois, zás, água a cair lá para dentro. Era uma miséria autêntica. Agora, a vida começou a evoluir, começou a ir indo e agora está melhor. Já há mais dinheiros, mais coisas. Já é melhor. Mas, no meu caso, foi muito mau.