A acartar fruta, sempre no duro

Depois de casar continuei em Lisboa mas fiquei em casa da tia da minha esposa, era sozinha, tinha três quartos, ainda tinha um quarto sem servir. Eu gostava de estar em Pardieiros mas uma pessoa cá não ganhava o capaz. E eu, está claro, comecei a namoriscar com a rapariga e também gostava de lá estar em Lisboa. Depois trabalhava na Praça da Figueira e de tarde ia trabalhar na Calçada de Santana levar cargas de bananas para mercearias, para lugares. O patrão vendia para essas casas, para mercearias e lugares, e a gente, à tarde, para ganhar mais alguma coisa, ia ter com ele e ele dizia:

- “Você vem de tarde que é para levar umas bananas a fulano e a fulano.”

Eu pegava em tudo para ganhar alguma coisa. Era um tanto por cada carga. Não tinha assim ordenado certo. E era assim, sempre no duro. Foi assim até vir agora para cá. Vim há uns quatro anos. A mulher morreu-me e depois a segunda também lá trabalhava na praça, também se lhe chegou a idade. Ela tinha menos sete anos que eu. Tem piada, a minha primeira mulher também era mais nova do que eu, também tinha menos uns sete anos. Porque ela casou-se com 19 anos e eu já tinha 24 ou 25 anos.