“Dois anos de greve”

Tenho um filho. Chama-se Arlindo Martins Simões. Naquele tempo não havia hospitais para as mulheres paridas. Tive o meu filho em casa com uma senhora que não era especializada, pronto, ajeitava-se. Muito jeitosa que ela era.

O meu filho fez a escola na Benfeita. A gente não tinha assim muitos abonos e não tinha para onde o mandar. Não se dava na cidade. Agora já se estuda em Côja, já se estuda em Arganil, mas naquele tempo não. Eu não tinha para onde o mandar, coitado, fez a quarta classe. Depois aprendeu de carpinteiro. Havia electricistas, ele também podia ter ido e aprendeu, porque na altura tinha aí um sobrinho do meu marido que era electricista. Ele sabe pôr a mão nessas coisas da electricidade. Mas eu gostava mais que ele fosse para carpinteiro. Naquele tempo era o que aqui se fazia e sem andar a cavar na terra. Faziam-se muitas casas. Agora vêm, mais ou menos, as coisas feitas das fábricas, mas naquele tempo não. Era feito tudo aqui. Eu gostava que ele aprendesse e aprendeu. Graças a Deus. Depois foi para a tropa e da tropa, ainda foi para Lisboa. Arranjaram-lhe lá um emprego. Foi para a Casa dos Diamantes e daí se reformou. Casou-se com uma rapariga que pertence à terra e fez um bom casamento. Está bem, graças a Deus. Nem só quem estuda tem valor. Agora está reformado. Ele sabe fazer tudo. Vem à Benfeita a miúdo. Temos por aí alguma coisa, uns bocados, umas oliveiras e umas cerpideiras, ele vem cuidar de tudo.

Tenho um neto e uma neta. E já tenho duas bisnetas do neto.