Para Alvoco das Várzeas

Depois, fui para um empreiteiro de Alvoco das Várzeas, chamado Mário Fonseca e Silva. Devia ter aí uns 18 anos. A firma ainda continua de pé. Andava a trabalhar em Cantanhede com uma máquina retroescavadora.

Um dia, disse que não trazia a máquina lá da vila. No local da obra, andava com ela, mas para a trazer para o estaleiro, não trazia. Não tinha carta de condução. Ainda hoje não tenho. Disse:

- Uma pessoa encartada, com carta profissional, pode levar a máquina para o estaleiro. Não levo, porque tenho de passar à porta da cabine da Brigada de Trânsito.

Há lá um quartel da Brigada de Trânsito. Eles tanto podem pegar como podem não pegar. E ele:

- “Tens que a levar, tens que a levar.”

Eu disse:

- Não levo.

Chateei-me, vim-me embora. Fechei a máquina, disse:

- Estão aqui as chaves.

Arrumei-a. Não a deixei lá no meio da rua.

- “Tem que ir para o estaleiro. Se roubarem alguma coisa a responsabilidade é sua.” - disse-me lá o encarregado-geral, que era engenheiro.

Eu disse assim:

- Não, senhor! Eu não tenho carta e a máquina não tem licença de circulação. O encarregado, que tem a carta profissional, pode-a levar. Eu nem carta tenho! Tenho só de motorizada.

- “Não, tem que a levar.”

- Não levo.

Estavam lá uns caixotes do lixo. Meti-lhe a pá debaixo. Meti-os dentro da pá e arrumei-a lá a um canto. Agarrei nas chaves e atirei com elas para cima do banco.

- “Já que não a leva, a porta é a serventia da casa.”

- Está bem, pronto...

Agarrei as minhas coisas e vim-me embora. Disse ao meu falecido pai. Já tinha morrido a minha mãe, também.

- Chateei-me lá com o senhor Jorge. Já trouxe as coisas.

- “Ai! Não te vão pagar e já está quase no fim do mês.”

Ao outro dia estava lá o patrão:

- Você até fez bem. Segunda-feira, tem que ir trabalhar. Eu trago-lhe aqui o cheque.

Lá veio o cheque, tudo muito bem. Disse ao meu pai:

- Eu hei-de arranjar para outro lado.