“Conforme a gente falava, assim escrevia”

Um ano, andámos na escola no Piódão mas não veio a professora. Íamos para as Casas Figueira, para a escola. O meu pai, todos os meses, tinha que pagar por mim e pela irmã, 50 escudos para a professora nos ensinar. Eram 25 escudos por cada um. O meu irmão já não andava na escola. Depois, chegou-se a altura das passagens. A minha irmã foi da segunda para a terceira e eu foi da terceira para a quarta.

Só quando fui tirar o exame da terceira classe é que o meu pai me comprou umas botas. Chegou-se a altura e parecia mal ir com uns sapatos esfarrapados ou descalço. Foi um homem de Vale de Maceira, chamado Bartolomeu, que era sapateiro, que mas fez. O meu pai disse assim:

- “Eu quero que passes!”

E eu fui de vontade “pia baixo” e fiz as coisas bem. Há outra escola, para baixo de Casas Figueira, antes de chegar à Malhada das Cilhas. Lá levámos a merenda e lá fomos fazer a passagem. A minha irmã da segunda para a terceira e eu da terceira para a quarta. Por acaso até fiquei bem.

Só que não cheguei a tirar a quarta. Eu andei lá até aos 11, 12 anos. Mas não tirei a quarta classe. Não aprendia. Depois fui para Lisboa, para uma pastelaria. Aí, andei numa escola da Câmara de Campo de Ourique. Dava muitos erros. Conforme a gente falava, assim escrevia. A palavra estava bem, porque era conforme a gente falava. Mas não era assim, era de outra maneira. O idioma era outro, pronto. Na Malhada Chã, não falam como aqui no Piódão. Há muitas coisas que eram diferentes.