“Tratavam as pessoas com ervas”

Antigamente, quando estávamos doentes, havia os barbeiros que nos tratavam. Eram uns senhores muito entendidos, que tratavam as pessoas com as ervas. Ainda é um bocadinho do meu tempo, quando eu era pequenina, foi ele que me salvou.

Só em último caso é que se ia ao médico, ou seja, quando o barbeiro dizia que já não podia fazer mais nada e era melhor ser visto pelo médico. Aí, se a pessoa podia deslocar-se, iam à Ponte das Três Entradas ou Avô ao Doutor Vasco de Campos, se não podia, pediam ao D. Vasco para vir a casa. Como não havia telefone ou qualquer outro meio de comunicação, ia alguém da aldeia, normalmente um homem, a pé, dizer ao Doutor Vasco que precisava de vir ver aqui um doente. E o senhor vinha, também a pé, porque não havia estrada. Receitava os medicamentos que entendia, depois, ia novamente alguém da aldeia à farmácia mais próxima, à Vide ou a Avô buscá-los. Quando já sabia mais ou menos o que se passava com o doente, já previa:

- “Bom, se está assim, com esses sintomas, deve ser isto.”

Ele próprio tinha uma farmácia e já trazia os medicamentos. Claro, depois apresentava a conta, como é evidente.

Aqui no Piódão, cosia-se o estrutagado. Punha-se a água a ferver num pucarinho de barro. Quando estivesse a ferver, punha-se a água num alguidarinho e o pucarinho deitado. E a senhora que cose o estrutagado via dizendo:

- “Que coso?”

A pessoa que está com o problema (actualmente ainda se faz) diz assim:

- “Carne quebrada e nervo torto.”

Diz a outra senhora:

- “É isso mesmo que eu coso. É carne quebrada e nervo torto.”

E vai assim dizendo um certo número de vezes, e, a aguinha, que está no alguidar, vai sendo absorvida pelo pucarinho, até que deixamos de ver a água, está outra vez toda dentro do pucarinho. É a verdade é que resulta.

Depois, há um determinado número de dias em que não se pode molhar o pé e que não se pode mexer na água. Ao fim daquele determinado número de dias, á água sai do pucarinho e volta a ficar no alguidarinho. Foi o que eu vi uma vez uma senhora, que já faleceu, fazer à minha mãe, que Deus tem. Estive muito atenta, mas não aprendi.