“Amigos um do outro”

Fui casada, tive sete filhos. Éramos amigos um do outro, muito amigos. No princípio houvera tempos muito maus, quando a gente se casou, nem arranjávamos para a rendita da casa. Pagava-se dez tostões, nem para isso tinha. Tinha de ir o meu marido esgalhar os pinheiros, subia ao pinheiro para o esgalhar, para trazer para uma mulher que cozia aí a broa, para quem não a podia cozer, para poder arranjar dinheiro para pagar a renda. Ai, passei tempos duros.

Também era caiador, botava cal na parede. Aprendeu em Lisboa, e ainda lá esteve depois de casado para ganhar alguma coisa para a vida. Então ganhava lá o dinheiro e mandava para a Benfeita. Sabe Deus como ele lá passava. Eu nunca fui a Lisboa com ele na vida. Já tenho ido muita vez com os filhos, tenho ido passear com eles.