“A vida do campo não tem horário”

A vida do campo não tem horário. Às vezes, prolonga-se pela noite dentro, para ir pôr comida aos animais ou para regar, na altura do Verão. As águas estão divididas: consoante a quantidade de terra que a pessoa tem, assim tem o tempo para regar. Quem tem mais terra, tem mais tempo, quem tem menos terra, tem menos tempo.

A levada que passa aqui vem lá de cima do monte para regar estas terras ao fundo da aldeia. Antigamente todas as terras eram cultivadas - não é como hoje - havia rega durante a noite. Com uma lanterna a petróleo ou a azeite, ia-se regar de noite.

No campo, cultivavam-se os legumes, as hortaliças, entre outras culturas. Tínhamos muitos animais: cabras, ovelhas, coelhos, galinhas, criávamos porcos.

Em Setembro começavam as colheitas: do feijão, do milho, da vinha, a castanha, o medronho, etc. Fazia-se a debulha do milho à mão, não havia máquinas como há hoje. Era tudo debulhado à mão e nós juntávamo-nos para fazer esta tarefa. Por exemplo, hoje eram os meus pais que debulhavam, os vizinhos vinham ajudar, amanhã debulhavam os vizinhos, íamos nós ajudar. Depois, contavam histórias da vida deles ou dos avós deles. No final, havia sempre o copinho do vinho ou o sumo para as crianças. Às vezes, faziam bolinhos no forno de lenha.

Quando havia pessoas que eram sozinhas ou que tinham algum problema de saúde e não podiam ir apanhar o milho - e quem diz o milho, diz a azeitona ou as uvas - os vizinhos juntavam-se e iam-lhe fazer isso. Era divertido, muito divertido.