“Sempre que posso, é para aqui que venho”

O povoado da aldeia antes de ser aqui era nas Casas Piódão. Indo pela estrada que se vê de frente da aldeia, vai-se ter a um lugar que se chama Torno, a aldeia ficava um pouco antes de chegar ao Torno. Daí, veio para outro lugar que fica no mesmo caminho mas mais próximo da aldeia actual que se chama Verdumeira de Cima. Dizem que os antigos tiveram de vir embora de ambos os lugares porque lá era mais quente que aqui na encosta da serra e as formigas comiam-lhe o mel, pois eles tinham muito mel.

Diz-se também que um dos carrascos da Inês de Castro, veio refugiar-se aqui no Piódão, no entanto, não há provas de nada.

Agora, encontro uma diferença bastante interessante em relação ao tempo em que cá vivia. Penso que as pessoas, mesmo num meio pequeno, tornaram-se mais individualistas. Não há aquela solidariedade que havia no passado.

Antigamente, se uma família tinha um problema qualquer, havia a entreajuda das outras famílias, hoje não, as pessoas estão mais individualistas. A nível de evolução, não se verificam alterações significativas, se bem que existam algumas: a pousada e o museu. Embora, não houvesse grande evolução a não ser as infra-estruturas de acesso de maior envergadura, tais como: estrada, luz e água já existiam.

Quando eu fui para Lisboa, os miúdos que existiam no Piódão ainda tinham aulas aqui, agora não, vão para fora. Em parte penso que tem a ver com o Ministério da Educação, acha que uma ou duas crianças não é bom, torna mais difícil o processo de socialização. Abriu mais um restaurante, que é o restaurante Século XXI. As terras estão cada vez mais ao abandono, o cultivo de ano para ano é cada vez menor.

Há ainda muito a fazer nesta aldeia. Gostava de ver as ruas mais bem arranjadas. A estrada podia e devia ser mais larga, porque quando se encontram dois carros é bastante difícil passarem um pelo outro. E também gostava que se conseguissem concentrar aqui pessoas mais jovens, que houvesse possibilidade de criar alguns postos de trabalho, aqui ou relativamente perto daqui.

Esta desertificação deve-se em parte a não haver aqui trabalho. A agricultura é pouco produtiva, e, quando há em excesso, ou seja, quando as pessoas não consomem tudo o que cultivam, é muito difícil escoar os produtos no mercado, porque não há mercado próximo. Portanto as pessoas só com a agricultura não vivem. Ninguém hoje quer viver como viveu a geração dos meus avós, por exemplo, cada vez mais exigem viver com algum conforto, e, ninguém quer viver só para o trabalho. Há necessidade de ter rendimentos que satisfaçam as necessidades básicas e também o lazer, coisa que por estas bandas como já foi exposto atrás não se consegue apenas com agricultura. Então faz falta criar alguns postos de trabalho que fixem a população, logo haverá um rejuvenescimento e a criação de serviços de apoio às empresas e às famílias. A aldeia fica mais enriquecida, e, os saberes e tradições mais preservados.

O Piódão para mim significa muito, é verdade que resido na cidade, mas sempre que posso, é para aqui que venho. Gosto muito da aldeia, da beleza, do sossego, da paz, das pessoas, da segurança, da comida, das tradições, ou seja, gosto de tudo. Para descansar do rebuliço dos grandes meios, não há melhor que esta aldeia, a não ser o toque das horas, é um sossego completo, se bem, que na rota das aldeias históricas o Piódão é aquele que continua a ter cada vez mais visitantes, tornando-se de certo modo um pouco incomodativo. Na Primavera e no Verão há muito turismo, quer de noite quer de dia.

Também, aquilo que nós vemos nos meios de comunicação, vandalismo, assaltos, roubos, etc, aqui, por enquanto, ainda não chegou, embora, alguns anos atrás, tenha desaparecido uma imagem de Santo António muito antiga da igreja, e, que até hoje continua o mistério “onde pára a imagem”, e já foi há mais de 20 anos. Naquela época, a Igreja estava sempre aberta sem que estivesse lá alguém da aldeia.