“Sei como se faz o pão”

Eu sei como se faz o pão de milho, ou melhor a broa. Primeiro, tem de se cultivar o milho. Depois de seco e limpo, leva-se a moer no moinho, que funciona a água, peneira-se a farinha, junta-se o fermento, o sal e com a água um pouco quente amassa-se e deixa-se algumas horas a levedar, sendo este tempo em que a massa está a levedar ocupado a aquecer o forno com lenha de modo a que fique com temperatura para cozer a broa. A broa pode ser só milho, ou ter uma mistura de trigo ou centeio.

O fermento para levedar a massa é feito normalmente de véspera. A um bocadinho de massa lêveda que fica da última vez que se coseu o pão, junta-se um pouco de farinha peneirada e amassava-se numa tigela de barro que é de tender a broa.

Quando a massa está lêveda e o forno quente tendem-se as broas e vão ao forno a cozer. O forno onde se coze a broa é comunitário e com capacidade para quantidade. Antigamente como não havia frigoríficos e a broa estragava-se, principalmente no Verão, normalmente, juntavam-se duas ou três pessoas para coser. Para distinguir os pães era fácil: no fim de tender o pão faziam sinais no próprio pão, ou seja, uma família deixava o pão sem nenhum sinal, outra com os dedos indicador e polegar fazia um sinal que se chamava o belisco, caso houvesse uma terceira família, com o dedo indicador fazia um sinal que se chamava o buraco. E era assim que cada família sabia qual era o seu pão.

Para saber quando queriam cozer, ia-se ao forno comunitário e punha-se um sinal, podia ser um ramo de pinheiro, de eucalipto, de medronheiro. Por exemplo, eu queria coser, mas, também queria saber quem mais queria cozer, então ia ao forno, punha lá um ramo de eucalipto, outra pessoa punha um ramo de medronheiro, outra punha um ramo de pinho. Juntavam-se ali dois ou três sinais e as pessoas normalmente iam dizendo umas às outras:

- “Olha, quero cozer. Fui pôr ali um sinal.”

Se aparecesse outra:

- “Fui ali pôr também um sinal. Está lá um. De quem é que será? Eu também quero cozer.”

- “Olha, é da Nazaré ou é da Maria ou da Joaquina.”

Os moinhos, também ainda existem, há um no ribeiro por cima da piscina, outro na ponte, e outros por aí e funcionam. Todas as pessoas têm determinados tempos nos moinhos, sendo uns de umas famílias outros de outras. Por exemplo, a andada é de uma semana. Então esse tempo é dividido pelas familiares que têm parte nesse moinho, quando se inicia a nova semana começa outra andada, sendo que as pessoas não têm todas os mesmos tempos, umas pessoas moem o dia com a noite, 24 horas, outras, só o dia e outras só a noite.