“Agora só cultivos os bocadinhos”

Levanto-me de manhã, abro a cama para trás, lavo-me, depois vou beber o café. Depois de beber o café ando por casa. Lavo alguma roupa. Chega-se a hora e vou ao centro. Depois vou do centro para casa, sento-me a ver a televisão ou a dar uns pontinhos. Entretenho-me assim. Já não faço rendas. Fiz muitas rendas, muitas lãs, muitas mantas de bocados. Fiz muitas coisas dessas. Agora também a minha vista já não dá para isso. Mas debruo muita coisa. Porque gosto de estar entretida. Às vezes, as raparigas até dizem:

- “Ah, esta mulher o que ela faz.”

Agora só cultivos os bocadinhos que tenho. Semeio umas alfaces, uns feijões, assim isso. Porque também já não posso fazer. Agora já há muito tempo que não faço nada. Até cá em casa vêm as mulheres do centro limpar. Não posso. Há dias que nem vestir-me posso e lavar-me. O que é se for preciso elas lavam-me e vestem-me. Porque muitas das vezes não é só a idade, são as doenças que a gente tem. Então a dos ossos, já se sabe o que é.