“O sino todo o dia a tocar”

A Páscoa é um dia muito bonito, também. Dão as boas-festas pela rua. Antigamente, quando eu era rapariga, andávamos a cantar atrás da Cruz. Depois, parávamos às portas e ficávamos a cantar. A Cruz ia dentro de casa visitar as pessoas que lá estavam, as famílias. Nós esperávamos que eles saíssem e depois íamos para outra casa. Também lá cantávamos. Era muito giro. O sino todo o dia a tocar. Agora ainda toca, mas já não é como dantes. Dantes, era mais bonito. Havia também a tradição do folar. Punham o folar para o padre. Antes, não tinha ordenado. Agora, ainda põem quando vão às casas, mas é dinheiro. Antigamente, era ovos e um queijinho no meio, quem tinha. Quem não tinha, punha só ovos. Agora, não, é para a igreja. O padre já tem ordenado.

A côngrua também era para eles. Era umas medidas. Cada ano, davam aquela medida. Diziam que era a côngrua. Era mais milho. Davam ao padre para a ajuda de ele viver. Senão, também não tinha possibilidades de viver nestas terras. Depois, o padre vendia-o. Mesmo as famílias mais pobres, sem possibilidades, arranjavam sempre. Cultivavam e tinham sempre o milhozinho para dar ao padre e para comerem todo ano.