“Ainda tenho o véu”

No dia do meu casamento, por acaso, estava a chover. Ainda não tinha 24 anos. Casei em Março e fazia em Maio 24.

Fiz a minha roupa no casamento! Só que a bainha, não a acabei de coser. Diziam que não era bom acabar a peça. Já não me lembra quem é que ma acabou, se foi uma irmã minha, se quem é que foi. Mas eu é que fiz o vestido. Era tirilene bege, de manga comprida e com uns machinhos, dois à frente e dois atrás. Levei um sapatinho, também a condizer com o vestido, e um véuzinho branco. Ainda tenho o véu. Por acaso, tenho-o guardado. Mas já está cortado da traça. O meu marido também ia com um fatinho que comprou. Não fui eu que lhe fiz o fato. Podia ter mandado fazer. Ia jeitoso.

O casamento foi na igreja do Piódão. Os meus pais fizeram-me uma festa. Era várias coisas que se comia, mais à base de carne de cabra ou de ovelha. Faziam os pães-de-ló, os coscoréis, os bolos do forno, arroz-doce e tigelada. Eram os doces que se usavam naquele tempo.

Os meus filhos nasceram em Lisboa. Foram lá praticamente criados. Já tenho dois netos.