“Tínhamos que ter respeito à professora”

Entrei na escola em 1967. Andei lá quatro anos. Desde a primeira até à quarta classe. Era no cimo. Chamamos ao Malhadinho. Eu ia a pé até lá. Era muito mau, porque tínhamos alturas em que nem se podia andar aqui na rua com o gelo. Umas vezes, era gelo, outras vezes, era neve. Nós chegávamos lá e também tínhamos frio. Aquilo tinha uma lareira, mas não aquecia a casa toda. É óbvio. Era só aquele cantinho. Era muito mau. E nós não tínhamos um vestuário adequado.

Tinha muitos alunos. Recordo-me que, quando saí da escola, em 1971, havia aí uns 40 e tal alunos. Pelo menos 40 havia. Tive várias professoras, umas melhor que outras.

Isto era muito mau e nem todas as professoras queriam estar cá. Muitas eram colocadas à força e assim que podiam, abalavam. Outras nem sequer tinham coragem para acabar a época. Iam embora antes disso. Depois, estávamos mais dois ou três meses à espera que viesse. Lembro-me que um ano só tivemos escola dois ou três meses. Não veio professora. Os que estavam mais bem preparados foram a exame. Nesse ano, não fui, exactamente por isso. Também não estava bem preparado para o pouco tempo de escola que tive.

Naquela altura, a escola não tinha nada a ver com agora. Não havia este drama que agora há nas escolas. Nós tínhamos que ter respeito à professora, senão ela batia mesmo. Batia a sério! E ainda ia dizer aos pais. Se ela fosse dizer aos pais, ainda apanhávamos mais! O que era um grande agravante. Hoje em dia é ao contrário. Os pais vão perguntar à professora porque deu uma chapadinha no menino. Se a professora viesse dizer à minha mãe ou ao meu pai, eu ainda apanhava mais. Havia um certo respeito. Mas lembro-me daqueles rapazes mais velhos, que eram repetentes, que andavam até aos 14 anos na escola. Havia lá rapazes de 13, 14 anos que se viravam à professora. Não deixavam bater. E, se fosse preciso, partiam-lhe a cana. Nós víamos aquilo, claro, também ficávamos um bocado inchados:

- Se ele faz aquilo, qualquer dia a gente também consegue fazer!

Mas não, era só um caso ou outro e aquilo ficava por ali. Mas por acaso uma professora - essa mesma a quem eu fui ajudar a levar as malas a Vide - quis-se ir embora porque andavam aqui uns quatro ou cinco rapazes mais velhos, muito maus. Como já era uma professora com uma certa idade - penso que tinha uns 50 anos ou mais -, começou a ter um pouco de medo deles e quis-se ir embora. Foi essa a razão. Tenho a certeza que ela foi mesmo embora por causa desses rapazes. E ela até gostava muito daqui do Piódão.

Não gostei muito dos primeiros anos. Queria era que aquelas horas passassem o mais rápido possível. Eu, na altura, também não era uma pessoa dedicada para aprender. Mas nem seria propriamente o gostar. Nós não tínhamos grande ajuda. Não havia grande incentivo. Mas, para o fim, já comecei a gostar mais. Só que entretanto, saí, porque a escola acabava no quarto ano e o exame não era feito aqui. Era em Arganil. Fica a 50 quilómetros daqui. Nem fui assim tão mau aluno, porque passei todos os anos. Só não passei um ano, que quase ninguém passou, porque houve uma professora que esteve cá um determinado tempo e depois foi-se embora. Mas posso dizer que estudei mais depois de sair de cá. Não continuei na escola, mas, voluntariamente, aprendi muito mais do que durante os quatro anos que andei cá na escola.