“A nossa perdição era o vinhito doce”

Quando eu tinha aí 7 ou 8 anos, ia ajudar nas boas-festas. Actualmente, também costumo ajudar o meu tio, que é o que faz isso, mas agora já levo a Cruz. Na altura, como era muito miúdo, ia à frente com umas campainhas a anunciar que estavam a dar as boas-festas na povoação. As pessoas punham sempre as coisas na mesa para a gente depois poder comer qualquer coisa, quando o senhor prior acabava de falar. A nossa perdição era o vinhito doce. Aqui, começava-se a beber vinho cedo. Eu comecei a ter contacto com o álcool muito cedo, com uns 9 ou 10 anos. Eu e quase toda a gente. Por isso é que na escola era um pouco complicado, também. Eu gostava muito desse vinho doce. E uma vez abusei e comecei-me a sentir tonto. Fugi. Dei a campainha a outro miúdo qualquer e fugi. Vim para casa e meti-me na cama. Não sabia o que era aquilo! Não sabia o que era ficar tonto, mas sabia que alguma coisa me estava a acontecer. Depois, o senhor padre repreendeu-me. Disse:

- “António, não podes beber tanto vinho. Bebe só um bocadinho. Só um bocadinho! Não sejas egoísta.”

Tenho esta lembrança. Na altura, o senhor padre disse-me isso.